terça-feira, 14 de setembro de 2010

PAMPLONA - HOSPITAL DE NAVARRA




De Eunate, partimos para Puente de la Reina. Chegamos por volta das 14 hs. Meus companheiros brasileiros ficaram no albergue dos Padres Reparadores, onde eu também gostaria de ter ficado, mas só que minha mochila seguira com o empregado do albergue Santiago Apostol, que ficava no outro lado, depois da ponte antiga. Assim, segui só até lá, sendo que, minutos depois, me deparei novamente com o polonês com quem havia conversado durante a etapa, e ele me acompanhou até o albergue. Lá, um dos atendentes me informou que em Puente de la Reina não havia serviço de rx, coisa que, no meu caso, seria fundamental. Então, usando meu celular habilitado na Espanha, chamei um táxi, e com este táxi fui até Pamplona.

É difícil para mim reviver aquela sequência de fatos. No Hospital de Navarra, fui muito bem atendida, utilizando meu seguro de saúde. Levei 15 minutos para ouvir do médico que o Caminho de Santiago havia terminado para mim. "Usted tiene que volver a su país". Todas as minhas colocações de continuar a caminhar foram rejeitadas por ele. Argumentei que seguiria sem mochila, a despacharia com serviço de transporte, que faria os controles necessários na medida em que fosse chegando junto aos grandes centros - Burgos, León - mas ele era irredutível.

Enquanto esta conversa acontecia, logicamente eu estava sendo puxada, ou seja, o médico estava ttrabalhando no que eles chamam de redução - colocar o osso no lugar. Eu chorava copiosamente, mas não me lembro de dor no braço, porém lembro da frustração que sentia, na culpa de ter caído, de não ter tomado mais cuidado, de ter até chamado a queda, já que pensei que poderia escorregar e cair... Foram momentos duros para mim. No fundo, eu ainda nutria a esperança de fazer tudo ao contrário, de dar uma de heroína, e continuar caminhando.
Aquele médico, entretanto, parecia ler meus pensamentos. Quando levantei da cama onde estava para ir a outro rx, vi que ele me maneara dentro de um gesso de uns três quilos... e vi que sequer conseguiria dar uns 10 passos, sem sentir cansaço.

Saí pelos corredores amparada por enfermeiros e atendentes que choravam comigo. Liguei para casa. Foi a hora mais difícil. Ouvir eu mesma dizendo - tenho que voltar...

Voltei para o albergue em Puente de la Reina, e resolvi dormir lá. O taxista, Ivan, me aconselhou isto, já que, naquela noite, eu precisaria de cuidados, e tinha que tratar com minha família os detalhes de minha volta.

No albergue, veio me socorrer uma moça, Jane, americana e médica ortopedista... Ali percebi que Deus não estava de cara virada comigo. Esta moça me banhou, preparou minha janta, e me colocou para dormir ao seu lado. Olhou meus exames, e foi unânime na teoria do médico espanhol - ou seja - no way. "You need to come back your home".

Ivan ficou acertado para me levar de volta a Pamplona no dia seguinte. Meus companheiros brasileiros foram me ver à noitinha. foram eles que me ajudaram a ligar para a seguradora, e comunicar o que havia acontecido. Todos estes detalhes eram coisas que eu não conseguiria fazer só. Descobri que eu não conseguia abrir sozinha minha mochila, que não conseguia tirar minhas roupas sozinha, que não conseguia amarrar meus tênis sozinha, e que não conseguia comer sem ajuda de pessoas que cortassem as coisas para mim.

Despedir-me de Joel, de Jaqueline e de Cláudio foi uma das coisas mais emocionantes. Foi um abraço em sete braços, já que um dos meus não pode comparecer... Dormi super mal naquela noite.

Fotos: as três únicas que consegui fazer de Puente de la Reina




4 comentários:

  1. Os anjos aparecem mesmo na nossa vida! Isso dá uma esperança num mundo melhor! Isso mostra que onde está o nosso limite de egoismo, que devemos lutar para reduzí-lo! Por que não ser anjo de alguem tambem? Isso é uma das coisas que o caminho resgata para nos, peregrinos!. Tambem passei por isso: foram 3 anjos que sempre vou guardar dentro de mim. Sem eles creio que não teria continuado o caminho. Abraços e força Isabel!

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  2. Amiga!!! Não deu pra conter as lágrimas, na leitura desse post... Mas tenha a certeza que VC ainda voltará para concluir o CAMINHO!!! Ah, suas fotos ficaram maravilhosas!!! Grande abraço!!!

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  3. Você voltará ao Caminho. Eu também não fiz completo em 2007, pois minha coluna não me permitiu. Ahhhh, mas os anjos do caminho são sempre maravilhosos, eu também os encontrei e sentirei saudades.
    2011 se Deus quiser estarei de volta pro Caminho e torcendo pra que você também volte logo.
    Abraços menina e fé em Deus e Santiago que tudo dará certo.

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  4. Puxa Isabel, suas palavras tbm me comoveram !
    E as pessoas tem sempre mto medo de irem sozinhas !
    Não é preciso ter medos.
    Vc é a prova disso ... de que não estamos sozinhos nunca.
    Tem alguém que olha por nós e que nos cuida, e no seu caso, que tbm te banhou e te deu de comer e te velou a noite, e estas almas vestidas de peregrinos são os verdadeiros anjos. Vc tbm será o anjo de alguém no seu próximo caminho. É o verdadeiro milagre da troca !
    Bjão
    Jurema

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