quarta-feira, 29 de setembro de 2010

E AGORA?


As narrativas terminaram. Não sei o que escrever agora. Não tenho muito mais para falar sobre o Caminho de Santiago. Não sei nem dizer quando vou novamente.

Por dentro, a sensação desta viagem ainda dói muito. Não consigo, ainda, entender o porquê de tudo ter sido como foi. Ainda ontem, comentei com meu namorado que melhor mesmo foi a minha preparação para o Caminho. Foi intensa, emocionante. Vivi cada passo e cada gota de suor brotado no esforço de caminhar nesta preparação. Foi tão bom que não acredito que outra preparação seja melhor. Na verdade, não tenho vontade de me preparar para ir outra vez.

Quando cheguei, pensava em voltar no ano que vem. Hoje, já não sei se é isto que quero. É como se eu estivesse esgotada deste assunto, deste tema.

Por outro lado, o meu ser estava acostumado a tudo isto, ou seja, a ter um tema, a ter um sonho, e deixar de lado o sonho que me acompanhou por dois anos é complicado também.

Então, resolvi viver as coisas uma de cada vez. Meu maior objetivo, hoje, é tirar o gesso. O gesso no braço, para mim, ainda é um triste medalhão, "recuerdo" de um objetivo frustrado. Como se não bastasse o fracasso por si só, mas também a lembrança dele por longos 40 dias de repouso que eu não queria, de privações e dependências que eu não busquei. Afinal, eu passei dois anos buscando uma longa caminhada de 800 e poucos quilômetros...

E volta sempre a pergunta : por quê?

Se alguém tiver uma resposta que não envolva DEUS, a vontade de Deus, que me escreva nos comentários. Porque Deus eu acho que não foi. Deus cuidou de mim para que nada de mais grave me acontecesse.

Hoje, meu netinho, Davi, está fazendo dois anos de vida. Encontro aqui um bom motivo para estar de volta antecipadamente - poder abraçá-lo, e dizer "obrigada Deus, por teres me concedido a graça de ser avó deste anjo...".



Foto: Davi, meu neto.

2 comentários:

  1. Por que?
    Por que eu? Somos em 10 irmãos, e, eu fui "premiado" com um cancer. Fiz a cirurgia a 8 anos, mas todo dia fico na ansiedade que um dia pode voltar em outro lugar.
    Por que eu? Gosto de caminhadas, corridas, montanhismo, academia. Preparando ano passado para maratona e Santiago, fiz lesões no menisco e na cartilagem do joelho esquerdo. Ortopedista disse me, nada de corrida e montanhismo. Nos 5 meses que antecederam Santiago, fiz fisioterapia, hidroterapia, academia. Em maio/2010, saí de Saint Jean Pied de Port, com uma mochila de 8,5 kg e fiz 900 km à pé,até Santiago e Finisterre em 33 dias.
    Por que eu? Na volta de Santiago, em junho, senti 2 hernias na virilha. Mais uma cirurgia; recuperação; atualmente academia restrito a 15 kg.
    Por que eu? Fui novamente ao ortopedista. Nada de corrida e montanhismo até que eu "nasça" outra vez, para não dizer "o resto da vida". Surgiu uma pequena esperança: pode ser que artroscopia ajude, mas a recuperação vai levar 5 meses. Ontem encaminhei os papeis para tentar autorização do convenio medico. Vou encarar mais essa. Ainda estou "vivo". Tenho muitos sonhos e desafios.
    Por que eu?...

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  2. Isabel

    Eu não sei o porquê,mas seu blog ficou gravado nos meus favoritos bem à vista,e todos os dias passo por ele,apesar de dezenas de outros que nunca acesso.

    Sua história me comoveu,também tenho sonho de ir a Santiago.MAS,acabo de fazer uma artroscopia no joelho e o ortopedista me disse que no meu caso ,andar tantos quilometros vai ser bem difícil...E já tenho 51 anos.

    Ainda que você não vá novamente,pense como foi boa a preparação,a viagem,a pequena caminhada,a solidariedade das pessoas...Será que isso tudo já não te modificou profundamente? Muitas vezes na vida as coisas não terminam como gostaríamos.Por que? Não sei te responder,mas acontece com quase todo mundo e o melhor a fazer é aceitar e não culpar ninguém ,muito menos você.Você foi demais!

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