terça-feira, 22 de junho de 2010

ÁS VEZES, O QUE EU VEJO QUASE NINGUÉM VÊ





Duas ou mais pessoas verem as coisas de uma maneira idêntica é algo muito difícil. Acho que é impossível. Todos tem seu próprio pensar, suas experiências, sua cultura, suas preferências.
Assim, ver as mesmas coisas, tem dois sentidos: ver as mesmas coisas, e ver as coisas do mesmo jeito.
A frase título não é minha. É de uma música do Legião Urbana (Quase sem Querer).
Estou fazendo rodeios para chegar onde quero: nas coisas que eu vejo quando me afasto do mundo para fazer minhas preparações para o Caminho. Tudo tem suas compensações. E na vida de peregrino o que se leva de vantagem, além do amor fraternal de peregrino para peregrino, são as imagens do mundo.
O que eu vejo quase ninguém vê porque quase sempre que eu vejo as imagens que retrato estou só. Ou quase só. E me pergunto se estas imagens estariam disponíveis só prá mim, naquele exato momento em que as vi e fotografei... ou se estariam disponíveis em outro lugar, para outros olhos, que também as viram e não as fotografaram, ou sim???? Nunca saberei de outras partes. Mas daquele lugar onde estou posso afirmar que quase ninguém viu.
Divido com vocês algumas imagens que quase ninguém viu, porque quando as fotografei o mundo, naquele lugar, estava vazio. Só eu estava lá.
1 - Praia de Itapirubá - SC
2 - Por do Sol, a caminho da praia de Barra Velha - Içara - SC
3 - Fim de tarde junto à Lagoa dos Esteves - Içara - SC






segunda-feira, 21 de junho de 2010

PREPARAÇÃO III


Quando iniciei minhas pesquisas para fazer o Caminho, fazê-lo a pé e com a mochila nas costas, com tudo que se precisaria dentro dela para viver os 30 dias de caminhada, era quase uma obrigação. Hoje, fazer o Caminho com mochila cheia é uma tradição para aqueles que desejam realizar a caminhada da maneira como foi feita por milhares de peregrinos ao longo da existência do Caminho de Santiago. Porque obrigação não é mais.



Hoje, ao longo do Caminho de Santigo, surgiram albergues privados que não fazem exigências como os públicos. Surgiram empresas que carregam as mochilas de uma cidade a outra, ao gosto do peregrino, é facílimo contactar com um taxista que busque o peregrino nos lugares em que ele literalmente "empacar", ou seja, não conseguir mais dar um passo.



Alguns condenam esta "turistificação" do Caminho, onde apareceram muitas empresas com profissionais que se encarregam de fazer da caminhada uma coisa menos árdua. De minha parte, não condeno. Acho bom. Entendo que deva haver escolhas, seja para quem julga ser bom para si uma caminhada mais tradicional, como para quem entender que só caminhar, sem levar mochila, ou que entenda caminhar partes apenas, como muitos hoje o fazem, andando de táxi, ônibus o restante das trajetórias diárias. Assim que, ficar hoje, dizendo o que levar na mochila é uma coisa do passado. Peregrino que entender que pode pagar uma média de 7,00 euros por cada trajeto para que lhe carreguem as tralhas, poderá fazê-lo tranquilo, sem problemas, levando tudo o que entender necessário.



Mas, para os tradicionais, e devo dizer que sou tradicional, gostaria de lembrar que caminhar com sua mochila, levar o realmente necessário, desenvolve em nós uma capacidade maior de adaptação. Desenvolve mais nosso espírito de partilhar. Desenvolve mais nosso desapego das coisas materiais. E acredito que estas sejam umas das maiores lições do caminho.






sábado, 12 de junho de 2010

QUIEN SOY?, MIRA EN TU CORAZÓN



Si quieres conocerte, observa la conducta de los demás; si quieres conocer a los demás, mira en tu propio corazón.

Friedich Schiller
A pergunta - Quien soy? Mira en tú corazón - é uma das muitas frases que encontram-se ao longo do Caminho de Santiago. Não sei exatamante dizer onde, mas li no livro "Muito Além do Caminho de Santiago", e Manoel Mendes, um dos autores, até faz comentários sobre a placa onde ele encontrou a frase.
Dizem as pessoas que o percorreram que caminhar por 800 km, dia após dia, nos leva, fatalmente, a uma profunda instropecção. Dizem, muitos, que voltaram diferentes e que nunca mais conseguiram voltar a ser como eram antes, no que se refere a conceitos como materialismo, viver em grupo, ansiedade, paciência, etc.
No ano passado, alguém, sabendo de minha intenção em fazer o Caminho de Santiago, me ofertou uma camiseta com os dizeres acima, e trazendo uma cruz templária de Santiago.
Confesso que não precisei ir até a Espanha para pensar sobre o que esta frase representa, e passei realmente a observar no quanto somos preconceituosos com as pessoas, com as coisas e com situações. Na verdade, quando conceituamos alguém ou algo sem conhecer estamos apenas colocando nelas aquilo que trazemos dentro de nós mesmos.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

PREPARAÇÃO II


Acho que a coisa mais importante para um peregrino é caminhar. Peregrino que se diz peregrino tem que caminhar, tem que ter bons quilômetros de caminhadas. Mas o que é o caminhar de um peregrino???? Seriam aquelas simples caminhadas que se dá três vezes por semana para perder a barriguinha incômoda???? Ou quem sabe ativar a circulação???? Sobre a esteira na academia????
Caminhar de peregrino não é smplesmente usar suas pernas para andar, e também não é só fazer exercícios aeróbicos utilizando-as. Não. Caminhar peregrino é uma sintonia da ação de andar com a vontade de percorrer distâncias. É viajar caminhando. Mochila nas costas, pé na estrada e coração no peito - bati que bum, bum, bum... É maravilhar-se com as coisas do caminho. É cam sempre na mão para clicar morros, fontes, flores, animais, árvores, e tudo o que enche este mundo de beleza... É preparação para o ato de andar. É estar atento aos seus passos, ao seu corpo.
Quem quiser caminhar no Caminho de Santigo, deve ter em mente que, de longe, é a trilha mais longa que existe no mundo. São 800 quilômetros, percorrendo todo o tipo de chão, em pistas planas, ou não, retas, ou não, e que isto implica, mesmo com todo o treinamento do mundo, em DOR. Ser peregrino sem sentir dor, não é comum.
Então, o melhor que se tem a fazer quando se sente o chamado para o Caminho é treinar.
De minha parte, devo dizer que minha idade não me ajuda muito. Tenho 56 anos. Muito embora eu caminhe seriamente desde os 40, pensei que só isso não bastaria. Há quatro anos, entrei para uma academia, como coisa normal da minha vida, além de fazer aulas de yoga e alongamento todas as semanas. Mas, com a aproximação do caminho, estes treinos se intensificaram. Os exercícios de musculação passaram a ser mais específicos. Com a ajuda de um ortopedista, de um fisioterapeuta, e de um professor de educação física, passei e exercitar partes do corpo de que o Caminho vai exigir mais - pernas, lombar e abdômen. Além de intensificar a distância das caminhadas, o tamanho delas, que hoje, a 80 dias do início do caminho, estão na faixa de 16 km p/dia. A meta é, na última semana de agosto, quando faltarem uns 10 dias para minha viagem, fazer 20 km todos os dias.
Nos finais de semana, de quebra, caminhadas curtas, de preferência subida de morros, com mochila com carga de 05 kg nas costas, para sentir o que é caminhar cargado... Uma beleza... Só gostando mesmo.
O que será a minha caminhada, não sei. Pode ser que eu não sinta quase nada, pode ser que me espatife no chão na primeira descida nos Pirineus, ou que tenha que desistir por alguma tendinite, canelite, uma bolha enorme, etc... Mas que vou sair de consciência tranquila quanto aos treinos, isto, eu vou.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

PREPARAÇÃO - Parte I



Ir para a Espanha, e percorrer o Caminho de Santiago, é meu sonho desde que ouvi falar deste lugar. Acho que foi lá pela década de 80 que o Caminho passou a ser "reinventado", após alguns anos em que passou meio esquecido, meio descuidado.
Se você quiser saber a história do Caminho, existem vários sites completos sobre isto, e posso adiantar que você vai ser transportado para alguns anos após a morte de Jesus Cristo, quando tudo começou. Este Santiago, é Tiago, discípulo de Cristo, que ficou lá pela Galícia, após a morte de seu Mestre. Sua história está ligada a todo o Caminho. saber sobre ele é fundamental. Acreditar, seria bom, mas não é obrigatório.
Além desta história cristã, há por todo o Caminho uma grande herança histórica medieval, desde o início do Cristianismo, até os Cavaleiros Templários, passando pelas heranças celtas da Galícia. Ou seja, quem gosta de história deste tipo, é um prato cheio.
Somado a tudo, nada menos de cinco regiões são percorridas pelos peregrinos que se dispõem a passar pelas estradas e trilhas do Caminho de Santiago - desde os Pirineus, na França, até a Galícia, no norte da Espanha, você cruzou as províncias de Navarra, Rioja e León. E cada uma guarda suas características definidas.
Bem, saber um pouco sobre todo o exposto acima, é uma parte de sua preparação para o Caminho. Não vá para lá sem saber quem é Tiago. Nem sem saber quem foram os Cavaleiros Templários, sem tentar entender um pouco da história da Espanha, sobre os Reis Católicos, porque você irá fatalmente ouvir falar sobre eles, vai ver fotos deles, vai dormir em casas que foram deles, e ... é bom saber o que é o Caminho desde sempre, desde quando começou a ser peregrinado. Passar pelo Cebreiro e não saber como viviam os Celtas, é puro tempo perdido. Olhar os Castelos Medievais de Castrojeriz e Ponferrada sem saber o que era uma fortaleza medieval e quem vivia lá é perda de tempo ao quadrado, e assim por diante.
Acredito que o Caminho é para pessoas que gostem deste tipo de coisa: história, religião, misticismo, e natureza. O Caminho é tudo isto. Não precisa saber tudo, mas precisa ter uma noção. E dentro de alguns sites está toda esta parafernália de informações que, nós, peregrinos, temos que ir digerindo, dia a dia, em nossa preparação.