terça-feira, 21 de setembro de 2010

A AJUDA DE JUAN





Quando saí do locutório da família nigeriana, percebi que os dedos de minha mão esquerda estavam roxos e super inchados.
Lembrei que o médico recomendara que eu ficasse de repouso, e que mantivesse a mão para cima, procurando movimentar os dedos.

"Merda", pensei, "como faço isto, se tenho que correr atrás de minha volta ao Brasil?"

Voltei correndo ao hotel, e me deitei. Comi aquelas comidas da caminhada - frutas secas, chocolate, e frutas secas e chocolate - regados a muita água torneral do próprio hotel... e passei a fazer as especificações do meu algoz - o ortopedista espanhol - que estava, para meu maior desconforto, certíssimo. Eu não poderia ter continuado mesmo a caminhar com o pulso quebrado... A mão inchada, os dedos roxos que nem chourizo (linguiça, para os espanhóis), e o pulso, por cima de tudo, "ainda pulsa"...
Acho que andei dormindo, e quando acordei, por volta das 16, olhei a mão, e nada mudara, ou se mudara era para um quadro que eu não queria ter visto. Tentei mover os dedos. Nada. Incharam que não se moviam mais. Percebi que formigavam, e que eu não tinha muita sensibilidade. Pensei: tenho que voltar no hospital para ver aquele médico... merda, merda, merda...

Foi nesta hora que lembrei de Juan. E liguei para ele. Prontamente, ele mandou um colega me buscar no hotel, e voltei ao hospital, onde o algoz me recebeu com um sorrisinho de vitória (eu, pelo menos, interpretei assim...). Ele cortou o gesso, de uma ponta a outra, deixando uma vala, de meio centímetro, para dar vazão àquele atual inchume, e mandou novamente que eu me "quedasse imóvel", com a mão para cima, e movendo os dedos...

Dalí para a frente, não precisei mais me preocupar em ligar para Juan. Ele me chamava a cada duas horas, para saber como eu estava, se queria ir a algum lugar, me indicava onde comer, me levou ao aeroporto para buscar minha nova passagem, enfim. Esteve atento em todo o tempo que ainda fiquei em Pamplona. Quando nos despedimos, no aeroporto de Pamplona, ele me disse: "Isabel, se eu sentisse que tu não estavas bem sozinha, eu já havia combinado com minha mulher e com minha avó que vive comigo: eu iria te levar para minha casa. "

Entendo que um homem com toda esta sensibilidade e dedicação deva ser mencionado, e que seja divulgado o seu trabalho.
Juan, mais uma vez, muito obrigada por teu carinho.

Fotos: Detalhes da entrada medieval de Pamplona. A muralha que cercava a cidade antiga.

Um comentário:

  1. Amiga Isabel!!!
    Juan é realmente um amor de pessoa!!! Foi ele quem nos levou de Pamplona a SJPP, e sem dúvidas é um dos ícones do Caminho de Santiago!!! Muito atencioso, amável e com um "Olhar de Mago", que nos transporta para o Caminho, mesmo antes de estarmos nele... Coisas del Camino!!! Grande abraço!!!

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